“O modo –de –ser cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano. Sem o cuidado, ele deixa de ser humano. Se não receber cuidado, desde o nascimento até a morte, o ser humano desestrutura-se, definha, perde sentido e morre. Se, ao largo da vida, não fizer com cuidado tudo o que empreender, acabará por prejudicar a si mesmo e por destruir o que estiver à sua volta. Por isso o cuidado deve ser entendido na linha da essência humana. O cuidado há de estar presente em tudo.”, trecho do livro “Saber Cuidar” de Leonardo Boff.
Quando estava na faculdade, um professor me indicou a leitura desse livro excelente e na capa essas duas palavras mágicas: “Saber Cuidar” me marcaram em uma viagem de descoberta, que dura até hoje. O cuidado está intimamente ligado ao amor. Essa divina conexão gera, além da ação de cuidar, uma outra palavra que faz toda a diferença em nossas vidas, a famosa gentileza.
Mas o que é de fato o cuidado? Palavra de apenas três sílabas e que carrega em si significados tão importantes como: a) demonstração de atenção; em que há cautela, prudência ou b) aplicação e capricho ao realizar algo; zelo, esmero ou ainda, c) atenção maior em relação a; preocupação.
E me perguntam: “Mas Dani, parece que aplicação desses termos que você citou para si mesmo e para o contexto ao redor, nem sempre é tão simples, não é mesmo? E a resposta é: ”Não é simples, mas é possível J”.
O primeiro passo é calar o Ego, que leva a tudo e a todos a se transformarem em inimigos potenciais. Por ser bélico, ele nos cria uma armadura pesada, que tensiona o corpo e engessa as ideias. Impede a criatividade de fluir, incentiva a competição a todo momento e impossibilita a gentileza. E se a voz do “ex-todo poderoso” se cala, gera espaço para começarmos a ouvir outra voz: a do coração, também chamada de intuição. Ela nos gera um conforto imenso internamente e desperta a nossa amorosidade.
A voz da intuição é gentil e extremamente respeitosa, e só se expressa quando baixamos a nossa guarda, quebramos as resistências e nos conectamos com a sensibilidade das mensagens que ela quer nos passar. Aqui, passo a passo, já estamos entrando no mundo do cuidado e vivendo um de seus significados que é o da demonstração de atenção, em que há cautela.
Seguimos nossa caminhada, agora mais amenos, menos reativos e vivenciamos um dos outros significados do cuidado que é atenção maior em relação a, que nesse caso é a nós mesmos, nossas necessidades e falhas, e também ao que está passando ao nosso redor.
Desse ponto em diante, começamos a cultivar algo que nem sempre esteve em nosso cotidiano, mas que agora começa a fazer todo o sentido: aplicação e capricho ao realizar algo; zelo, esmero. Esse último significado de cuidado, nada tem a ver com perfeição (que é um delírio do ego). Ele está conectado a arte de se presentear muito amor e empregar essa lindeza em cada gesto, atividade, projeto, pensamento e relação, porque transborda.
O cotidiano e o ego podem querer nos arrastar pelos caminhos de antes, mais bélicos, reativos e pesados. Mas agora temos algo que é o divisor de águas: consciência. Somos os protagonistas da mudança para a amorosidade. Então, dia a dia vamos nos propor a regar essas lindas sementes que plantamos dentro da gente, porque o cuidado-amor está presente nos detalhes, e agora aprendemos a divina arte de Saber Cuidar.