DBerti Comunica

Uma vez, antes de estarmos nesse contexto de pandemia, entrei apressada em uma farmácia. Não conseguia encontrar o item que eu precisava e estava agitada, porque tinha horário para chegar a um compromisso. De repente, ouço uma voz amável perguntando: “Posso ajudar?” e mais que um registro vocal agradável, me deparei com um par de olhos extremamente expressivos, que tinham a mesma amabilidade da fala e transmitiam a sincera vontade de auxiliar no que fosse preciso. Em 2 minutos, tinha o produto em mãos.

O mesmo atendente foi para o caixa para agilizar os pagamentos e evitar fila. Por coincidência, ele acabou me atendendo uma vez mais e comentou: “Percebi que estava com pressa, espero ter podido ajudar”.

Sorri, agradeci e já no momento seguinte, estava a caminho do meu compromisso. A sensação de pressa tinha passado, mas o olhar de minutos antes me marcou. E porquê? Porque eu não me percebi na situação e nem o que estava transmitindo ao meu redor (para mim era uma agitação “normal”, mas para o entorno era uma super pressa! rs).

Foi necessário um olhar externo e amável para cair a ficha e, ao mesmo tempo, fazer pensar: “Viver nesse estado de pressa ou urgência, me leva a que? Só me conecta a uma realidade automática e não permite que eu me veja, já que o foco é externo, um estar sempre correndo para alcançar…E no final, alcançar o quê mesmo?

E se não me vejo ou não me percebo, como perceber o outro? Como conecto comigo, para poder conectar com o outro?”. As perguntas ficaram “martelando” por um tempo, sem respostas prontas, até a pressa com grande atrevimento e sem bater na porta, entrou e tomou conta novamente do espaço, levando ao “famoso” modo automático.

Meses depois, as perguntas voltaram e de uma maneira bem intensa! e quem as trouxe não foi um olhar amável, foi um contexto extremamente delicado. O espaço é o mesmo de manhã até a noite. O tempo é o mesmo, mas a pressa continua! E ela vem de onde?

De um padrão, hábito, jeito “antigo”, que agora não serve mais. Diante dos nossos olhos, o dia que passa em um instante, nos “obriga” a olhar para nós mesmos, todo o tempo, e perceber a presença da ansiedade, da frustração, da raiva, da tristeza, da melancolia, que se vestiam de pressa em outros “carnavais” e nos levavam ao modo automático.

Mas temos a oportunidade também de perceber ou despertar para o nosso lado excelente e até então adormecido. Descobrimos como somos obstinados, resilientes, criativos, gente boa, divertidos e aprendemos a celebrar com paixão, cada conquista cotidiana, cada reinvenção intuitiva, que antes passava desapercebida.

A situação da pandemia nos tirou do modo automático e nos colocou no modo “dentro da caixa, diante do espelho”, para que possamos nos enxergar, nos perceber, nos acolher, nos curar, para que assim seja mais fluído, mas sincero e mais leve o encontro e a percepção com o outro.

Não é fácil mudar um hábito, uma atitude, uma postura, um pensamento, que muitas vezes está presente por tantos anos, mas é possível. Com dias de muita boa vontade e acolhimento, com outros dias de raiva e cobrança, vamos nesse caminho não-linear na busca de amenizar situações e perceber mais outras. Te convido a olhar pra você mesmo com muito carinho e autocompaixão e, com isso, dar o primeiro passo a melhor versão de você mesmo. Bóra ?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *